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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

HISTORIA EXPRESSA NA ARTE SACRA CARIRIENSE

18/09/2011

A busca da origem nas imagens. A história descortinada. Uma identidade revelada. Do pintor, do escultor, da obra, do seu tempo. Quantos segredos podem ser revelados por meio da arte? A resposta para a restauradora do Cairo, no Egito, naturalizada italiana, Maria Gabriela Federico, que há sete anos está no Ceará, sendo quatro deles na região do Cariri, é o infinito. Algo que transcende. Está na alma.

São 24 anos trabalhando com restauração de imagens, uma experiência que nasceu em Roma, na Itália. Lá, foram oito anos de uma trajetória profissional, que se fincou no Brasil e veio desembocar no Nordeste brasileiro. A marca do catolicismo europeu está bem presente nas imagens que ela tem restaurado pelo Brasil. Tanto é que a maioria delas foi trazida da Europa para os altares das igrejas brasileiras. E no Nordeste isso não poderia ser diferente. No Cariri, Gabriela tem desenvolvido trabalhos importantes e com boas descobertas, o que vai muito além da arte de restaurar.

Na próxima semana, a festa de São Miguel, no Crato, trará a renovação não apenas da igreja, mas das imagens dos santos, que estarão todos recuperados. Um anjo barroco é uma das peças raras da coleção de imagens e também uma das mais valiosas da região. Cada trabalho de recuperação, uma tarefa minuciosa e difícil. É que tudo requer muita paciência, boa orientação para a equipe que segue junto.

Primeira restauração

A imagem de Nossa Senhora da Penha, da Sé Catedral, no Crato, foi o primeiro trabalho de recuperação desenvolvido por Gabriela. Desceu do nicho depois de 70 anos. Foi feita por uma empresa do Rio de Janeiro, onde se produzia imagens com estilo europeu, com cerca de 1,85 metro de altura. É em madeira, com dourações e tinha rachaduras no encaixe das costas da escultura, na face de Nossa Senhora e do Menino Jesus, que ela tem no colo. Depois veio outra imagem de Nossa Senhora da Penha, de mais de 200 anos, da casa paroquial.

O Cristo Morto, da mesma igreja, foi o mais revelador dos trabalhos que Gabriela tem desenvolvido na região. Eram quatro camadas de tinta. Com o início da restauração, ela via traços de um trabalho raro no Brasil. O escultor, que não se sabe o nome, deverá ter sido, para Gabriela, um aluno de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, com uma influência direta. Os traços que se descobria, aos poucos, era a lembrança de um dos momentos da história das artes plásticas no Brasil, com um dos escultores de traços mais marcantes da arte sacra.

Não eram apenas os 70 anos que se suspeitava, mas, sim, uns 200 anos, de acordo com os cálculos de Gabriela. É que pelo menos há 100 anos, por conta das flagelações que alguns homens se determinavam, cortando as suas próprias carnes em sacrifício e sem dó, é que os próprios padres decidiram então esconder, segundo a restauradora, parte dos ferimentos, retratando o sofrimento da via crucis. As chagas por todo o corpo, as cores, a forma como foi apresentada por uma época, a história e a visão do artista, tudo isso merece a atenção sensível de quem recupera, por estar não apenas tornando original uma imagem desgastada pelo tempo, mas trazendo a sua característica singular e particular de uma época.

O tipo de tinta utilizada na coloração dos ferimentos, na época foram avaliadas por um médico da cidade, segundo Gabriela, para identificar as cores usadas e a relação da forma real que uma pessoa ficaria após morte. Exemplo disso é a pele esbranquiçada em torno dos ferimentos, e o corpo com uma coloração de pele um pouco escurecida, após a crucificação. Uma aproximação da realidade. As chagas na imagem acabaram sendo escondidas, para não influenciar tanto os penitentes a se martirizarem até à morte. Com isso, todas as imagens com Cristo foram restauradas, cobrindo os ferimentos e deixando muito pouco aparecendo.

O olho estava fechado e, descortinando as partes falsas, a escultora descobriu que havia gesso, e foi retirado. Com isso, encontrou a coloração da íris, um momento de emoção e encontro com a arte verdadeira. Com a emoção do próprio artista que a esculpiu. O pano que cobre o quadril é todo ensanguentado e os ferimentos nos ombros não apareciam, por conta do carregamento da cruz.

Uma das primeiras imagens recuperadas por Gabriela, no Cariri, foi a de Nossa Senhora da Conceição, na Matriz de Mauriti, imagem de madeira feita no Brasil. Um estilo diferente das antigas encontradas na região, que mais traduzem o estilo barroco. Lá, ela viu algo diferenciado, o estilo clássico, uma arte que considera de rara beleza desenvolvida no Brasil, que incorpora mais o teatral.

Restauração

70 anos foi o período que a imagem de Nossa Senhora da Penha, de 1,85 metro de altura, padroeira do Crato, ficou no nicho da igreja. Saiu apenas para passar por restauração.

LINK: http://www.bulhoesproducoes.com.br/exibe_noticia.php?id=3551&PHPSESSID=67480265556f6f15f21ae36f815e3632

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