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domingo, 3 de maio de 2009

Conhecendo o Passado e construindo o Futuro

Restauração é a arte de recuperar e proteger o Patrimônio Cultural de um povo ou até de toda a humanidade, constituído por bens materiais e imateriais que no seu conjunto identificam uma determinada cultura; sua forma de ver, pensar, sentir e viver numa determinada época. De um modo geral, este patrimônio inclui não só monumentos e edifícios, esculturas e outros objetos de arte, mas também registros de pensamentos e sentimentos, idéias e crenças, costumes e tradições, que tendem naturalmente a evoluir ou a se deteriorar com o passar do tempo e que correm o risco de se perderem definitivamente.

Durante séculos, a restauração de objetos de arte foi muitas vezes realizada por artistas plásticos que, na falta de um treino especializado, reinterpretaram a obra original usando o seu senso estético pessoal, desvirtuando assim a sua autenticidade, que inclui valores históricos e estéticos da época de criação e do artista que a criou, e desvalorizando a obra como objeto de arte. Já nos dias de hoje, nas mãos de uma profissional como Maria Gabriella Federico, a restauração de objetos de arte ganha uma nova dimensão, uma que implica todo um trabalho inicial e delicado de investigação, não tão diferente assim do trabalho realizado durante uma escavação arqueológica.

Como quando, por exemplo, Gabriella restaura a escultura de uma imagem sacra. Despindo delicadamente e pacientemente a imagem de uma ou mais camadas de tinta que a revestiu ao longo do tempo, não é rara a vez que ela descobre toda uma roupagem há muito esquecida, bem como o senso estético e único do artista que a desenhou e da época em que viveu. Todo este trabalho é feito como quem desembrulha um presente de aniversário frágil, com todo o cuidado para não o danificar. No entanto, na prática de restauração de objetos de arte, o ‘presente’ escondido é um Passado distante e o papel de embrulho são as diversas camadas de tinta, fruto das reinterpretações da obra original até ao momento Presente. Uma vez identificadas cores, tons, símbolos e decorações originais que ainda sobrevivem registradas na primeira camada de tinta, Gabriella passa então a uma segunda fase, durante a qual deixa o seu ego e senso estético pessoal de lado para replicar e assim restaurar o aspeto original da obra prima, como se usando os olhos e as lentes do seu verdadeiro criador.

Mas a importância do trabalho de Gabriella não pára por aqui. Ao contrário do que se possa pensar, a restauração e conservação do Patrimônio Cultural não se limita a um nostálgico e inútil apego a uma visão do Passado ou a uma mera satisfação da nossa curiosidade, pois nele encontramos conhecimento valioso que continua servindo no Presente como uma plataforma de apoio para construirmos o Futuro, assim como as fundações construídas ontem continuam servindo hoje para construirmos uma casa sólida amanhã. Nesta grande casa chamada Arte, uma obra em constante e eterna mutação e sem início ou fim à vista, cada um dos tijolos - ou objeto de arte - é muito mais do que uma simples peça igual a tantas outras. Cada objeto de arte é um ponto de referência e observação neste processo evolutivo e - talvez mais importante - é também um registro e uma chave única para princípios fundamentais e intemporais que se aplicam em toda a Natureza, mistérios de um Criador que escapam ao comum mortal.